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Os efeitos do Open Banking na sua vida financeira

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Desde o ano passado, o Banco Central (BC) já havia anunciado – por meio da Resolução Conjunta nº 1 – a implementação do Open Banking no Brasil. No dia 1º de fevereiro deste ano, a primeira fase desse processo já entrou em ação.

Para entender o que isso tem a ver com a sua vida financeira, vale saber, antes de tudo, que  o Open Banking – também chamado pelo BC de Sistema Financeiro Aberto – é um modelo de serviço em que as instituições financeiras podem compartilhar (ou, literalmente, “abrir”) as informações de seus clientes, usuários ou cooperados – caso os mesmos solicitem isso – para que outras instituições tenham acesso a esses dados.

O Reino Unido foi o pioneiro na implementação de sistemas do tipo, em 2018, seguido pela Austrália, que iniciou a primeira fase do seu programa no ano passado. A Índia também já começou a dar os primeiros passos nesse sentido. Enquanto Estados Unidos, Canadá e Rússia seguem fazendo análises para a incorporação do Open Banking aos seus sistemas financeiros.

No Brasil, serão quatro fases de implementação, que devem acontecer todas ao longo deste ano:

  • Na fase 1 (desde 1º de fevereiro), os participantes (instituições financeiras) devem divulgar informações e características de seus produtos e serviços para que outras empresas possam desenvolver apps que façam comparações entre as instituições participantes.
  • Na fase 2 (15 de julho), as instituições já podem começar a compartilhar dados de clientes com outras instituições participantes, desde que sejam solicitadas expressamente pelo próprio cliente.
  • Na fase 3 (30 de agosto) devem começar a funcionar os serviços que permitam ao cliente fazer algumas operações bancárias fora do Internet Banking ou do app de sua instituição financeira.
  • Na fase 4 (15 de dezembro) poderão começar a ser compartilhados outros dados dos clientes e usuários, sobre operações de câmbio, seguros, investimentos, etc. – o que ainda está em debate entre os participantes.

Mas, afinal, quais as vantagens disso para você? Como a implantação do Open Banking pode influenciar no seu dia a dia e nas suas contas? Confira:

– Você no domínio dos seus dados

Imagine a seguinte situação: você baixa em seu celular um novo aplicativo de controle financeiro que não está vinculado à instituição financeira em que você possui conta.

Até o presente momento, na maioria dos casos, você precisaria preencher manualmente os seus dados, incluindo cada gasto, cada conta paga, cada recebimento, etc. E o desenvolvedor do app não teria acesso a seu histórico nem a nenhum outro dado anterior não informado por você.

Só que, com o Open Banking, você poderia simplesmente solicitar a sua instituição financeira que compartilhasse seus dados com o desenvolvedor do app e essas informações poderiam ser ingressadas de forma automática.

Outro exemplo: digamos que você deseja solicitar um empréstimo ou financiamento, mas descobriu que em uma cooperativa financeira você pode ter taxas muito menores do que no banco em que você possui conta.

Nessa situação, contando com o Sistema Financeiro Aberto, você poderia autorizar a migração do seu histórico de crédito (contas pagas em dia, perfil de gastos, faixa de renda ao longo do tempo, etc.) do seu banco para a cooperativa escolhida, facilitando a aprovação do crédito desejado.

A partir desses exemplos fica mais fácil perceber um dos principais efeitos do Open Banking na sua vida financeira, que é o de colocar você no domínio dos seus dados, permitindo-lhe utilizar os meios que julgar mais convenientes para controlar suas contas.

Em episódio do Conexão Sicoob do dia 02 de março, a especialista em finanças Mara Luquet comenta que “quando a gente fala em dados, muitas vezes, a gente não tem noção do valor que isso tem. Isso tem um valor enorme. E a pessoa diz assim: ‘Ah, mas eu tenho controle dos meus dados. Meu nome, meu telefone…’ Mas é muito mais que isso. É a sua história financeira. E isso pode te abrir portas e pode te entregar produtos mais baratos, oportunidades financeiras.”

Corroborando essa afirmação, o superintendente de Governança de TI e Segurança Cibernética do Sicoob, Márcio Alexandre, representante do cooperativismo no Conselho Deliberativo do Open Banking, comenta que “os dados são o novo petróleo”.

Nesse sentido, vale ressaltar ainda que o princípio básico do Sistema Financeiro Aberto é o consentimento do cliente, usuário ou cooperado – ideia que vai ao encontro da Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD), assegurando que, de forma a garantir a sua privacidade e segurança, nenhum dos seus dados pode ser compartilhado sem o seu consentimento e autorização expressa.

– Novos produtos e serviços

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) “o Open Banking é um sistema que facilitará o surgimento de novos produtos e serviços para o cliente. Isso será possível devido ao uso de um conjunto de programas que promoverão a conexão entre as instituições participantes e as informações que serão trocadas entre elas (chamadas de API padronizadas).”

Estando estabelecidas essas conexões, é razoável pensar, inclusive, que esses novos produtos e serviços poderão ser desenvolvidos com menos custos (sendo ofertados também por valores menores) e de maneira mais personalizada, atendendo a necessidades específicas de cada consumidor.

Márcio Alexandre exemplifica: “Você pode ter um aplicativo de um pedágio que, ao passar, ele nem fala nada com você. Você previamente autorizou, limitou ali que até X reais o app possa debitar direto da sua conta, então, ele vai lá e debita. Ou na hora de consumir num shopping, você vai consumindo, vai pegando os produtos e automaticamente um app debita da sua conta. Então, cada vez mais, a gente vai ver a conta sendo movimentada de forma transparente. A gente não precisa acessar a conta para realizar aquela operação.”

É possível, inclusive, que já nesta primeira fase de implantação do Open Banking no Brasil já comecem a surgir no mercado novas soluções que permitam, neste primeiro momento, fazer a comparação entre produtos e serviços oferecidos pelas diversas instituições financeiras participantes, dando maior poder de decisão e liberdade de escolha aos consumidores. Vamos falar mais sobre isso:

– Mais transparência e menos concentração

A ideia de um Sistema Financeiro Aberto também está relacionada à concepção de um sistema financeiro mais transparente, em que o consumidor, além de ter verdadeiro domínio de seus dados, tenha fácil acesso a informações precisas sobre produtos, serviços e taxas praticados por cada instituição financeira.

É por isso que o Open Banking também pode ser visto como uma ferramenta que trará mais competitividade ao setor financeiro, contribuindo para a redução da concentração bancária no Brasil.

Para imaginar o efeito disso sobre sua vida financeira basta lembrar que quanto maior a concorrência, maior também é a variedade de ofertas e, com isso, maiores são suas chances de encontrar soluções mais baratas e convenientes para você.

– O Open Banking e as cooperativas

Se no caso do PIX (novo sistema eletrônico de transações), as cooperativas financeiras já são quase 85% das instituições participantes, no que se refere ao Open Banking esse entusiasmo cooperativista também tende a ser grande.

Afinal, o sistema aberto deve ser mais transparente, permitindo às pessoas comparar o que é realmente oferecido (e cobrado) por cada instituição financeira e, com isso, descobrir os benefícios de associar-se a uma cooperativa do ramo.

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Para debater o tema e comentar sobre o que tem sido feito em favor das coops no âmbito do Conselho Deliberativo, a Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB) realizou, no dia 19 de janeiro, o 1º Encontro Técnico sobre Open Banking, disponível aqui.

Nessa ocasião, o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, reforçou que a organização está pronta para atender e orientar as coops nesse processo:

“Contem conosco. Se não tivermos a resposta na hora, vamos buscar e compartilhar com vocês. Fiquem à vontade para nos procurar. É isso que fará do Sistema Nacional do Cooperativismo de Crédito ainda mais relevantes para os nossos cooperados – os de hoje e os de amanhã.”

Jhenifer Rinaldin

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