Cooperativa indígena: conheça essa iniciativa pioneira

Saiba mais sobre o povo Akwe-Xerente e sobre a cooperativa indígena Coopiax.

Vantagens da Cooperação | 27 de maio de 2022
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Você provavelmente já sabe que o cooperativismo é um modelo socioeconômico alternativo, orientado por princípios mais justos e humanos, como a Adesão Livre e Voluntária, que trata do acesso livre a quem quiser cooperar, sem nenhum tipo de discriminação. Agora, você já imaginou, por exemplo, a formação de uma cooperativa indígena?

Essa iniciativa pioneira teve lugar em Tocantins, em março deste ano, quando 21 cooperados – todos pertencentes ao povo indígena Akwe-Xerente – formalizaram a abertura da cooperativa Akwe_Xerente-Coopiax.

“É um marco histórico para todos nós indígenas, não só para o nosso povo, mas para o Estado. Pois somos os desbravadores no âmbito da cooperativa. Ela vai trazer muitos benefícios. Acreditamos que os demais povos do Tocantins podem ter como referência a nossa cooperativa”, comentou o presidente da nova cooperativa indígena, Ercivaldo Damosõkekwa Calixto Xerente.

Acompanhe e saiba mais sobre essa ideia inovadora:

O povo Akwe-Xerente

Xerente é o nome dado por não-índios ao povo que se autodenomina Akwe (ou Akwẽ), uma população indígena que, atualmente, habita o cerrado tocantinense, sobretudo, ao Leste do rio Tocantins, no município de Tocantínia.

De acordo com estimativas de 2016, a população Akwe-Xerente superava, nesse momento, os 3.800 habitantes distribuídos em cerca de 70 aldeias.

Apesar de estarem inseridos em um contexto capitalista e do intenso contato com não-índios, esse povo segue mantendo viva sua língua (ainda que também falem fluentemente o português) e algumas de suas crenças e tradições.

É interessante saber, por exemplo, que os Akwe-Xerente se organizam por meio de uma divisão sociocultural em duas metades – Doí e Wahirê – associadas respectivamente ao Sol e à Lua.

Além disso, é válido comentar que esses indígenas têm como principais meios de subsistência os produtos das roças de mandioca, abóbora e milho, assim como a venda de artesanatos de capim dourado e palha de buriti.

Akwe_Xerente-Coopiax

De acordo com Ercivaldo Xerente, a nova cooperativa indígena Akwe_Xerente-Coopiax será voltada à prática da agricultura e da pecuária sustentáveis em grande escala entre os Akwe.

A ideia é facilitar a execução do projeto Etno Agricultura e Pecuária Sustentáveis, que será aplicado a uma área de 10 mil hectares, trabalhando com a policultura.

A formalização da nova cooperativa indígena foi facilitada pela Junta Comercial do Estado do Tocantins (Jucetins).

“O povo Xerente utilizou a assinatura avançada, que é gratuita e disponibilizada pelo Governo Federal. Essa novidade que a Jucetins trouxe contribuiu para que o processo deles fosse mais rápido, com o mínimo de entraves possíveis. Temos certeza de que essa cooperativa será um sucesso e vai ajudá-los muito em suas atividades na área da agricultura e da pecuária”, afirmou a presidente da Jucetins, Thaís Coelho.

Além disso, os membros da nova cooperativa indígena também contam com o apoio da unidade tocantinense da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB/TO).

Dias após a constituição da Coopiax, os membros do Conselho de Administração da cooperativa visitaram o Sistema OCB/TO para conhecer o espaço e as formas de apoio oferecidas.

“Ficamos muito felizes em receber cooperativas interessadas porque nosso papel é dar suporte para o desenvolvimento do nosso modelo de negócio. Estamos à disposição e muito animados com o pioneirismo indígena no cooperativismo”, disse o analista de Cooperativismo e Monitoramento, Magnum Vinicius, que recepcionou os cooperados da Coopiax na ocasião.

Cooperação e sustentabilidade como estilo de vida

Apesar da formalização de uma cooperativa indígena ser uma iniciativa pioneira, é interessante notar que os povos indígenas normalmente já têm um estilo de vida baseado na cooperação.

Entre os Akwe-Xerente, por exemplo, apesar da dualidade sociocultural (Doí e Wahirê) e da existência de vários clãs (incluindo alguns que são confrontantes), eles muitas vezes trabalham juntos, além de ter o costume de um lado realizar certos rituais para o outro (como enterros e o ritual do kupre).

Em um estudo publicado na revista de Ciências Sociais Athlos, os pesquisadores Khellen Cristina Soares e José Alfredo Debortoli comentam ainda sobre práticas cooperativas comuns no dia a dia dos Akwe-Xerente, como a realização de um almoço em conjunto:

“Crianças, jovens, adultos e idosos se juntam para organizar um almoço juntos, uns preparando a comida, outros cavando buracos, pegando gravetos para queimar ou ainda folhas de bananeira, e outros ficam por ali, em volta, olhando, rindo e brincando com este acontecimento”, descrevem os pesquisadores.

Além disso, o fato da cooperativa indígena Akwe_Xerente-Coopiax trabalhar com práticas sustentáveis também tem origem nos próprios hábitos indígenas.

Como afirmam Soares e Debortoli, no modo de vida dos Akwe-Xerente, “há uma carga histórica de relação e comprometimento com o meio em que vivem, o lugar onde residem e de onde tentam retirar recursos naturais de forma inteligente para a manutenção das futuras gerações”.

Os pesquisadores ainda esclarecem:

“A sociedade não-indígena, por conta das demandas estabelecidas por sua forma de viver, de produzir e consumir, constrói um modo de habitar diferente dos povos indígenas. Enquanto para a primeira há uma necessidade humana de dominação da natureza e dos recursos naturais; para a segunda [sociedade indígena] é necessária uma possibilidade de comunhão e unidade entre homem, natureza e recursos naturais”.

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